Gravado no Escritório da Transfusão entre 2018 e 2019 por Felipe Oliveira, João Casaes, Lê Almeida, Bigú Medine, João Luiz e Phill Fernandes com participações de Raoni Redni e vozes de apoio de Bigú, Felipe Neiva, Gustavo Pires, João Luiz, Jorge Polo, Lê e Karolyne Oliveira.
Todas as faixas compostas por Felipe Oliveira, exceto “Namorados” por Felipe e Karolyne
Gravado e mixado por Lê Almeida e João Casaes
Capa por Jorge Polo
Masterizado por João Casaes
GAAX: Naturalidade
(Transfusão Noise Records, 2020)
GAAX (RJ), a banda de um homem só de Felipe Oliveira, metalúrgico de 28 anos, mostra em Naturalidade (2020) que seus sons internos são criados e amplificados através de encontros, da intensidade do trabalho de muitas mãos. Foi percorrendo o trajeto da Baixada Fluminense para o Escritório do selo Transfusão Noise Records, no Centro do Rio de Janeiro, que se construiu o disco entre amigos que há longos anos dividem os mesmos caminhos.
Em seu quarto álbum o músico faz um balanço, tira de dentro de si sentimentos guardados, soma com algumas sobras de outros discos, e traça algo novo, regado a lo-fi e experimentalismo. “Quando surgiu a ideia de materializar minhas composições, nasceu junto um diário de reflexões, acontecimentos, vivências e um processo de autoconhecimento amplo, onde tudo que vivo e sinto, com os pés no chão e consciente, se manifesta em música”, conta Felipe.
Abrindo com Ciclo, música cheia de guitarras barulhentas quebradas por uma percussão suave e hipnotizante, o disco dá uma amostra do que vem a seguir. Já em Meu Rifle, vem a promessa de hit pelo refrão chiclete e cantarolante “sei que meu troco está guardado na sua caixa registradora” – dá até para imaginar o fervor do público numa performance ao vivo. Algo que se despedaça com os acordes lentos e sombrios de Roques de Quarto, assim como em Adequada Ação.
A arquitetura secreta de GAAX remete ao instrumental melancólico de Daniel Johnston, marianaa e Sonic Youth, ao trabalho solo de Lee Ranaldo, ou ainda às guitarras angustiantes e raivosas do Dinosaur Jr. Mergulhado em memórias e pensamentos, Felipe se contradiz quando canta, em Outro Lado, que não teria nada a dizer. Aquilo que estava ali guardado até o momento entra em choque e se recria no encontro sonoro com seus amigos, como dá para sacar no potente coro em Vê se faz o que é certo. “Tudo foi se formando com a naturalidade real da amizade que tenho com todos que participaram”, ele reflete.
Ao contar sobre Naturalidade, Felipe se revela profundamente grato por criar músicas ao lado das pessoas com as quais divide sua história de vida.Como numa comunhão, algo de cunho religioso e espiritual; o que fica evidente no hino de louvor Luvzin, enraizada no roque gospel brasileiro da banda carioca Rebanhão.
Gravado em quatro dias no final de 2018, durante as férias corridas de Felipe, Naturalidade contou com a mão de obra dos integrantes da Oruã – antes de saírem em turnê pelos Estados Unidos e Europa com a Built to Spill no ano passado. O disco conta com as vozes de apoio dos camaradas Bigú Medine, Felipe Neiva, Gustavo Pires, João Luiz, Jorge Polo, Lê Almeida e Karolyne, esposa de Oliveira. As guitarras são de Raoni, Lê e João Luiz.Os baixos de Bigú, João Luiz e João Casaes. Algumas baterias são do Lê e outras do Phill Fernandes. Lê Almeida também assume a mixagem, e Casaes, além de adicionar sintetizadores, fica com a masterização. A capa do álbum, uma pintura de árvores se consumindo em fogo e fumaça, assim como os outros trabalhos do GAAX, é assinada pelo artista Jorge Polo.
“Afinal, reflita. Escute.”
Por Fernanda Castilho.
GAAX: Naturalidade
(Transfusão Noise Records, 2020)
GAAX (RJ), the one-man band of Felipe Oliveira, a 28-year-old metallurgist, shows in Naturalidade (2020) that its internal sounds are created and amplified through encounters, the intensity of the work of many hands. It was on the way from Baixada Fluminense to the Transfusão Noise Records ‘Escritório’, in downtown Rio de Janeiro, that the record was built among friends who have shared the same paths for many years.
In his fourth album, the musician makes a balance, puts out repressed feelings, adds to it some leftover track from other records, and traces something new, full of lo-fi and experimentalism. “When the idea of materializing my compositions came up, a diary of reflections, events, experiences and a process of broad self-knowledge was brought together, where everything I live and feel, with my feet on the ground and conscious, manifests itself in music,” says Felipe.
Opening with Ciclo, a song full of noisy guitars broken by a soft and hypnotizing percussion, the record gives a taste of what comes next. In Meu Rifle, comes the promise of a hit by the sing-along bubble gum chorus “I know my change is stored in your cash register” – you can even imagine the fervor of the audience in a live performance. Something that shatters with the slow and dark chords of Roques de Quarto, as well as in Adequada Ação.
The secret architecture of GAAX harkens back to the melancholic instrumentals of Daniel Johnston, marianaa and Sonic Youth, to the solo work of Lee Ranaldo, or even to the anguishing and angry guitars of Dinosaur Jr. Diving into memories and thoughts, Felipe contradicts himself when he sings, in Outro Lado, that he has nothing to say. That which was kept guarded until then, comes into shock and is recreated in sonic encounters with friends, as can be witnessed in the powerful chorus in Vê se faz o que é certo. “Everything was coming together naturally with the friendship I have with everyone who participated”, he reflects.
In telling about Naturalidade, Felipe shows his profound gratitude for creating music alongside the people with whom he shares his life story. As in a communion, something religious and spiritual; which is evident in the hymn of praise Luvzin, rooted in the Brazilian gospel rock band Rebanhão.
Recorded in four days at the end of 2018, during Felipe’s vacation, Naturalidade relied on the labor of Oruã members – before touring the United States and Europe with Built to Spill last year. The album has backing vocals of Bigú Medine, Felipe Neiva, Gustavo Pires, João Luiz, Jorge Polo, Lê Almeida and Karolyne, Oliveira’s wife. The guitars are by Raoni, Lê and João Luiz. The basses by Bigú, João Luiz and João Casaes. Some drums are by Lê and others by Phill Fernandes. Lê Almeida also takes on the mix, and Casaes, besides adding synthesizers, takes on the mastering. The album cover, a painting of trees consuming themselves in fire and smoke, as well as other GAAX works, is signed by the artist Jorge Polo.