All lyrics written by Lê Almeida, except Bicho Solto by Lê and Otto Dardenne
Recorded in Rio de Janeiro (Escritório), Búzios (Emerências), São Paulo (Mameloki and Formigaz Garden), New York and Seattle (USA), Aalborg (Denmark) and finalized in Baixada Fluminense
Mixed by Lê Almeida and mastered by João Casaes
Cover painting by João Casaes (portrait) and Beeau Gomez (backgroud)
Typography by Josimar Freire
ENSAIO SOBRE O CÉU
Eu queria encontrar palavras que definissem a sensação de estar no céu. Independentemente da crença e de qualquer orientação religiosa, apenas a sensação livre de se sentir leve o suficiente para estar tão alto quanto o céu. Não consegui encontrar essas palavras exatamente, mas encontrei um mundo de pensamentos, anotações e percepções sobre como criar e gravar fora de um ambiente violento, influenciando diretamente minha musicalidade e criando novos contornos sociais em minha maneira de pensar.
A gravação de um álbum às vezes se torna um jogo de paciência. Deixar um som amadurecer na mente enquanto ele toma várias formas e descobrir como dar sentido a tudo isso faz parte da experiência.
Passei vários meses viajando com minha banda ORUÃ e transformei esse material em gravações que acabaram se transformando em um esboço de um álbum. Foi durante a turnê de 2022 nos Estados Unidos que percebi que o único título que eu havia pensado até então tinha uma conexão direta com a estrada e o estado mental sonhador que a turnê causava em mim. I FEEL IN THE SKY.
Alguém havia comentado em algum momento que eu sempre parecia feliz quando estava em turnê. Isso combinava com minha empolgação de me apresentar como músico profissional todas as noites, mas, além disso, acho que a felicidade de experimentar coisas novas me deu muita inspiração que só o tempo me fez perceber. Deixar minha realidade no Rio de Janeiro foi muito libertador.
Cresci em um bairro violento. Vivi lá durante a maior parte da minha adolescência, trancado no meu quarto gravando música, Soltando pipa em cima da laje em casa, andando de bicicleta e fugindo de brigas violentas na rua. Em uma dessas brigas, levei uma pedrada em um dos olhos e vi (pela primeira vez na vida) meu pai ameaçar alguém de morte. Embora eu soubesse que ele nunca faria isso, ficou claro para mim que vivíamos em uma filosofia explícita de “dente por dente e olho por olho”.
Deixei esse bairro em 2018, depois que meu pai morreu. Precisando de alguma forma de liberação, fiz longas turnês com o ORUÃ pelo Brasil e saí do país pela primeira vez, tocando com a banda americana Built to Spill em 2019. Viver na estrada me fez absorver novas formas de entender e expressar a arte. Essas novas noções me fizeram perceber que a música que eu criava tinha me ajudado a escapar da minha realidade, mas indiretamente tinha um tom violento e defensivo embutido nela. Comecei a sentir a necessidade de mudar isso.
I FEEL IN THE SKY foi gravado durante os intervalos entre as turnês. Eu estava procurando uma respiração calma e constante para amadurecer essas músicas sem nenhum tipo de pressão, inclusive a minha própria. Basicamente, eu queria que as faixas soassem visivelmente diferentes umas das outras, como se tivessem sido criadas e gravadas propositalmente em ambientes muito diferentes. Isso aconteceu espontaneamente, pois eu levava alguns equipamentos de gravação comigo na estrada e aproveitava qualquer oportunidade para gravar aleatoriamente.
À medida que o conceito desse álbum foi sendo desenvolvido, percebi que a energia de cada ambiente de gravação afetava diretamente a formação das faixas. Até 2019, eu havia passado muito tempo gravando em uma sala comercial no centro do Rio de Janeiro. Esse local ficou conhecido como Escritório, um espaço destinado à produção e shows que eu e alguns amigos ajudávamos a manter desde 2013. Nesse espaço fiz inúmeras gravações, tanto minhas quanto de várias bandas diferentes. Naqueles anos, adquiri muitas habilidades, mas estava sempre trabalhando na mesma sala em um computador antigo e as vezes com fitas cassete. Depois de sair do país pela primeira vez, adquiri uma nova mesa de som portátil, um notebook e um novo programa de gravação. Com essa nova configuração, comecei a fazer experimentos na estrada, usando qualquer espaço e qualquer instrumento disponível.
Durante o período do fim da pandemia, morei em Búzios, no litoral do Rio, com dois amigos, João e Bigú. Eles foram meus parceiros musicais por muito tempo, mas morar juntos era uma novidade e nos permitia trocar conhecimentos com mais frequência. Nosso foco inicial nessa casa era mixar e gravar overdubs para o novo álbum do Built to Spill, mas também se tornou um espaço colaborativo que acabou formando o álbum Íngreme do ORUÃ e mais material solo meu. Alguns esboços de melodias mais serenas surgiram durante as manhãs em que eu dedilhava acordes calmos e gravava em uma Tascam 4-track.
COSTAS QUENTES
Essa foi a música que abriu minha mente para o conceito desse álbum, pois foi gravada em São Paulo, entre prédios enormes e muitas pessoas diferentes. Ela enfatiza o free jazz, alguns acordes agressivos e um certo entusiasmo nos vocais. Os vocais foram gravados longe da cidade grande, no coração da Baixada Fluminense, a região onde moro. Só depois de algum tempo é que percebi que isso estava sendo canalizado para o som – uma demonstração nítida de territorialidade. Levei alguns anos para terminar essa faixa entre os intermináveis passeios de bicicleta pelo meu bairro durante a pandemia, em busca de algum significado.
CLARÕES DE ONÇA
Essa música me levou a outro tipo de experiência, dedilhando acordes pela manhã no quarto onde morei por um ano em Búzios, perto do mar e da bela natureza. Essa faixa me acompanhou em algumas viagens durante 2022. A letra repete a afirmação de que tudo é normal, mesmo que não seja, e deixa uma mensagem direta ameaçando ficar longe porque minhas proteções são invisíveis aos olhos. Minha proteção é a música.
Gravei as faixas básicas dessa música em Nova York com Bigú durante os intervalos de gravação com ORUÃ. Nesse período, também estávamos em uma casa que ficava a duas horas de distância da cidade, cercada pela natureza. Mais tarde, gravei mais overdubs no porão da casa de Jim Roth, em Seattle. Isso também foi feito em um ambiente extremamente silencioso, durante os intervalos entre as gravações com o ORUÃ.
I FEEL IN THE SKY
Essa faixa foi gravada durante o período em que morei em Búzios, aprendi muito sobre a magia do sampler com o João e o Bigú. Todas as quartas-feiras, durante a pandemia, participávamos de um programa chamado Loop Sessions, no qual trabalhávamos com loops e beats extraídos de vinis que o programa ripava e disponibilizava. Essa faixa saiu de um desses programas, promovido pelo Beat Brasilis.
TAFETÁ
Essa música era inicialmente um único som ambiente, feito com um arco de violino na guitarra e alguns delays por cerca de 4 minutos. Em uma ocasião, no Escritório, eu estava sozinho tocando batidas aleatórias sobre esse som. Mais tarde, João me mostrou o Yellotron, um mellotron construído com dados puros, então passei algum tempo gravando progressões de acordes nele. O João acrescentou a linha de baixo cuidadosamente interjetada. Naquela época, eu tinha visto nos jornais uma reportagem horrível sobre um congolês que havia sido assassinado no Rio de Janeiro depois de exigir seu salário dos patrões, que o executaram com uma surra brutal. Essa tragédia absurda me fez escrever essa letra e refletir.
COSTAS QUENTES e SUITE AMOROSO
Essas duas músicas são de uma sessão gravada na casa do Archela em São Paulo antes da turnê de 2019. ARTES CÊNICAS e SOLITUDE foram gravadas em duas sessões, também em São Paulo, no Mameloki, no final de 2021. Ambas as sessões foram gravadas com Cacá Amaral na bateria. Tive que amadurecer as melodias vocais por um bom tempo antes de gravá-las – foi um grande exercício tentar encaixar melodias em temas tortos e desconstruídos.
BICHO SOLTO
Antes da turnê de 2023 do Oruã pelos EUA e Europa, passei um tempo morando em São Paulo. Depois de ensaiar um show solo meu em SP no Mameloki, improvisamos uma faixa básica com alguns amigos (Ana, Beeau, David, Julio) que incluía um pouco de percussão e um ritmo descontraído. Otto a gravou com apenas um microfone no centro da sala. Depois disso, escrevi a letra com o Otto e desenvolvemos a melodia principal. Naquela época, eu tinha alguns amigos no estúdio, então a produção dessa faixa foi muito colaborativa. O Yann desenvolveu o arquivo no PC, que depois passou pelas mãos da Alê nas mixagens e ela adicionou alguns backing vocals. O Raphael colocou algumas frases de guitarra e o Danilo também fez alguns arranjos de teclado na faixa. Foi um processo bem espontâneo que aconteceu em um dia.
MISSÃO DE OUVIR
Lembro-me de comprar cordas lisas para guitarra pela primeira vez em 2019. Eram cordas suaves, mais macias para arrastar os acordes e dedilhar. Coloquei essas cordas em uma guitarra velha antiga que estava na sala de casa. Eu já havia adaptado essa guitarra com um captador melhor do que o original e o mantinha pronto para qualquer tipo de ideia espontânea que me ocorresse, mas foi colocando essas cordas lisas que me fizeram dedilhar com mais facilidade do que jamais havia experimentado. Foi assistindo a um filme enquanto dedilhava acordes aleatórios que essa faixa surgiu.
O fato de estar longe do Escritório há muito tempo me fez refletir mais sobre as coisas que aprendi trabalhando lá. O tema dessa música está centrado no valor da audição. Trabalhei muitas noites no Escritório ouvindo e interagindo com todos os tipos de pessoas e suas histórias.
MILHAS E MILHAS
A Mel foi a primeira pessoa a quem mostrei uma primeira versão desse álbum. Durante o processo, continuei lhe enviando algumas faixas e conversamos muito sobre composição e processos de gravação. Inicialmente, essa faixa era apenas um violão gravado em Búzios. Mais tarde, acrescentei a bateria no Escritório e os vocais no Brooklyn, NY, durante uma rápida estadia em um airbnb aleatório na região. Mel gravou a faixa de baixo em Grand Junction, CO, durante sua turnê com o Built to Spill em maio de 2023. No Brasil, Lorenzo acrescentou linhas de flauta e Ana e Beeau acrescentaram guitarras e sintetizadores.
AFROPONTO
Essa faixa surgiu dos raros momentos em que eu passava sozinho tocando guitarra, concentrado apenas em como diferentes arranjos poderiam se entrelaçar. Esse tema surgiu na minha sala em casa, improvisando com um loop de guitarra afro. Inicialmente, era apenas um estudo de ritmo e som, mas aos poucos se transformou em uma espécie de ponto cantado sem voz.
BAILE DE CINEMA
Em janeiro de 2023, antes de me mudar temporariamente para São Paulo, passei algumas horas improvisando no Escritório com dois amigos de SP, Vicente e John. Meses depois, em Aalborg, na Dinamarca, fui vasculhar essas gravações por curiosidade e acabei cortando grandes trechos que facilmente montaram uma faixa na minha cabeça. Meu objetivo inicial para a letra era a ideia do “baile de cinema” – como em uma festa chique de filmes antigos, nos é mostrado que tudo é sempre perfeito – e um ensaio filosófico despertou em mim sobre a importância de ser sábio o suficiente para enxergar através dessas apresentações de “perfeição” e, em vez disso, seguir em frente e se afastar antes de ser aproveitado.
SOLITUDE
Essa música foi um instrumental que me acompanhou por um tempo como um tema abstrato. Meu esboço de letra era sobre estar sozinho e estar bem consigo mesmo a ponto de levitar em sua própria realidade. Fazia muito sentido para mim estar isolado em um quarto apenas gravando e escrevendo, enquanto via pelas cortinas abertas um breve mar lá fora em dias ensolarados e muitas pessoas passeando pela orla. Esse era o ambiente ao redor da sala que eu estava usando para produzir em Aalborg, Dinamarca, em julho de 2023. Por cerca de 4/5 dias, minha rotina era entrar nessa sala e fazer qualquer tipo de manifestação artística relacionada à música e à escrita. Essa faixa estava zumbindo na minha cabeça com a letra pronta, só precisando de uma boa interpretação. Isso aconteceu nessa sala. Amanda foi uma amiga muito importante na colaboração com essa sala e foi conversando com ela que percebi que estava literalmente participando de uma residência artística. Preparei essas duas últimas faixas durante essa residência na Dinamarca e as mixei na Finlândia enquanto fazia os dois últimos shows da turnê mais longa que já fiz com o ORUÃ – quatro meses e duas semanas de duração.
Em abril de 2016, tive minha primeira experiência em uma residência artística musical. Ela aconteceu na capital de São Paulo. Durante esse período, comecei a me envolver com algumas pessoas do circuito de improvisação livre, fora da residência. Comecei a improvisar com Cacá Amaral, Henrique Diaz e Juliana R. Eram pessoas incomuns musicalmente para mim e muito acolhedoras. Fizemos algumas sessões e meu campo de possibilidades na guitarra e nas composições foi se expandindo cada vez mais em direção ao free jazz. Cacá Amaral foi uma espécie de mentor para mim na improvisação livre. Lembro-me dele me buscando de carro em uma estação de metrô para irmos à casa do Archela, meu xará. De lá saíram gravações incríveis e uma delas foi incluída no primeiro álbum do ORUÃ, representando outro tipo de ideia dentro da minha música.
Em outubro de 2023, apresentarei I FEEL IN THE SKY em outra residência artística, em Seaview, em Washington (EUA), inserindo minhas noções atuais de improvisação em um ambiente completamente novo, imerso na natureza e próximo ao mar.
As adversidades sociais em que cresci nunca me fizeram sentir um artista. Foi viajar pelo mundo que me fez sentir um respeito significativo pelo que faço como arte genuína. Isso definiu meu projeto como um passe livre artístico que explora mundos novos e desconhecidos. Sem medo.
Terminei esse disco na minha cidade, aqui no meu bairro, depois de uma viagem que durou quatro meses e duas semanas, na qual cruzei mais de 10 países com o ORUÃ, entre os Estados Unidos e a Europa.
LÊ ALMEIDA
ENSAIO SOBRE O CÉU
I wanted to find words that would define what it feels like to be in heaven. Regardless of belief and any religious orientation, just the free sensation of feeling light enough to be as high as the sky. I couldn’t find those words exactly, but I found a world of thoughts, notes, and insights on how to create and record outside of a violent environment, directly influencing my musicality and creating new social contours in my way of thinking.
Recording an album sometimes becomes a game with patience. Letting a sound mature in the mind while having it take multiple shapes and figuring out how to make sense of it all is part of the experience.
I spent ample months traveling with my band ORUÃ and had this material churned up into recordings that were eventually formed into an outline for an album. It was during the 2022 tour in the United States that I realized that the only title I had thought of until then had a direct connection with the road and the dreamy state of mind that touring caused within me. I FEEL IN THE SKY.
Someone had commented at some point that I always looked happy when I was touring. This matched my excitement with performing as a professional musician every night, but beyond that I think the happiness of experiencing new things gave me a lot of inspiration that only time made me notice. Leaving my reality in Rio de Janeiro was very freeing.
I grew up in a violent neighborhood. I lived there for most of my adolescence, locked in my room recording music, flying kites on top of my house, riding my bike and running from violent street fights. In one of these fights, I took a stone to one of my eyes and witnessed (for the first time in my life) my father threaten someone with death. Even though I knew he would never do this, it became clear to me that we lived within an explicit philosophy of “a tooth for a tooth and an eye for an eye”.
I left this neighborhood in 2018, after my father died. Needing some form of release, I went on long tours with ORUÃ through Brazil and left the country for the first time, playing with the American band Built to Spill in 2019. Living on the road made me absorb new ways of understanding and expressing art. These new notions made me realize that the music I created had helped me escape my reality but it indirectly had a violent and defensive tone built into it. I began to feel a need to change this.
I FEEL IN THE SKY was recorded during the breaks in between tours. I was looking for a calm and constant breath to mature these songs without any kind of pressure, including mine within myself. Basically, I wanted the tracks to sound visibly different from each other, as if they were purposely made and recorded in very different environments. This happened spontaneously as I carried some recording equipment with me on the road and took advantage of any opportunity to record randomly.
As the concept for this album was being developed, I realized that the energy of each recording environment directly affected the formation of the tracks. Until 2019 I had spent a long time recording in a commercial room in the center of Rio de Janeiro. This place has become known as Escritório, a space intended for production and shows that I and a few friends had helped to maintain since 2013. In this space I made numerous recordings, both mine and several different bands. In those years I acquired many skills, but I was always working in the same room on an old computer and sometimes with cassette tapes. After leaving the country for the first time, I had acquired a new portable soundboard, a notebook, and a new recording program. With this new setup I started experimenting on the road, using any space and any instruments available.
During the period at the end of the pandemic, I lived in Búzios on the coast of Rio along with two friends, João and Bigú. They were my music partners for a long time, but living together was new and allowed us to exchange knowledge more often. Our initial focus in this house was to mix and record overdubs for the new Built to Spill album but it also became a collaborative space that eventually formed the ORUÃ album Íngreme and more solo material of my own. Some drafts of more serene melodies emerged during the mornings I was quietly strumming calm chords and recording on a Tascam 4-track.
COSTAS QUENTES
This was the song that opened my mind to the concept of this album as it was recorded in São Paulo, among huge buildings and many different people. It emphasizes free jazz, some aggressive chords and a certain enthusiasm in the vocals. The vocals were recorded far from the big city, in the heart of Baixada Fluminense, the region where I live. It wasn’t until after a while that I realized this was channeled into sound – a sharp display of territoriality. It took me a few years to finish this track between endless bike rides around my neighborhood during the pandemic, looking for some meaning.
CLARÕES DE ONÇA
This song led me to another kind of experience, strumming chords in the morning in the room where I lived for a year in Búzios, close to the sea and beautiful nature. This track stayed with me for a few trips during 2022. The lyrics repeat the statement that everything is normal, even if it isn’t, and leaves a direct message threatening to stay away because my protections are invisible to the eyes. My protection is music.
I recorded the basic tracks for this song in New York with Bigú during recording breaks with ORUÃ. During this time, we were also in a house that was two hours away from the city, surrounded by nature. Later, I recorded more tracks in Jim Roth’s basement in Seattle. This was also in an extremely quiet environment, during the intervals between recordings with ORUÃ.
I FEEL IN THE SKY
This track was recorded during the time I lived in Búzios, I learned a lot about the magic of the sampler with João and Bigú. Every Wednesday during the pandemic we participated in a program called Loop Sessions, in which we worked on loops and beats extracted from vinyl that the program ripped and made available. This track came out of one of these programs, promoted by Beat Brasilis.
TAFETÁ
This song was initially a single ambient sound, made with a violin bow on the guitar and some delays for about 4 minutes. On one occasion at Escritório, I was alone playing random beats over this sound. Later, João showed me the Yellotron, a mellotron built on pure data, so I spent some time recording chord progressions on that. João added the carefully interjecting bass line. At that time, I had seen in the newspapers a horrible report about a Congolese man who had been murdered in Rio de Janeiro after having demanded his salary from his employers, who in response executed him in a brutal beating. This absurd tragedy made me write these lyrics and reflect.
COSTAS QUENTES and SUITE AMOROSO
These songs are both from a session recorded at Archela’s house in São Paulo before the 2019 Tours. ARTES CÊNICAS and SOLITUDE were recorded during two sessions, also in São Paulo at Mameloki in late 2021. Both sessions were recorded with Cacá Amaral on drums. I had to mature the vocal melodies for a long time before recording them – it was a great exercise trying to fit melodies into crooked and deconstructed themes.
BICHO SOLTO
Before Oruã’s 2023 tour of the US and Europe I spent some time living in São Paulo. After rehearsing a solo show of mine in SP at Mameloki, we improvised a basic track with some friends (Ana, Beeau, David, Julio) that included some percussion and a relaxed rhythm. Otto recorded it with just one mic in the center of the room. Afterwards, I drafted lyrics with Otto and we developed the main melody. In those days I had some friends hanging around the studio so this track became very collaborative in production. Yann developed the file on the PC, which subsequently went through Alê’s hands in the mixes and she added some backing vocals. Raphael put some guitar phrases and Danilo put some keyboard arrangements over the track as well. It was a very spontaneous process that all happened in one day.
MISSÃO DE OUVIR
I remember buying flat guitar strings for the first time in 2019. They were smooth strings, softer to drag the chords and strum with. I put these strings on an old guitar that was in the living room at home. I had already adapted this guitar with a better pickup than the original and I kept it ready for any kind of spontaneous idea that came to me, but it was by putting these flat strings on that made me strum more easily than I had ever experienced. It was from watching a movie while strumming random chords that this track came to me. Having been away from Escritório for a long time made me reflect more on the things I’ve learned from working there. This song’s topic is centered around the value of listening. I worked many nights at Escritório listening to and interacting with all kinds of people and their stories.
MILHAS E MILHAS
Mel was the first person I showed a first version of this album. During the process I kept sending her some tracks and we talked a lot about composition and recording processes. This track was initially just a guitar recorded in Búzios. Later, I added drums in Escritório and vocals in Brooklyn, NY during a quick stay in a random airbnb around the region. Mel recorded the bass track in Grand Junction, CO during her tour with Built to Spill in May 2023. In Brazil, Lorenzo added flute lines and Ana and Beeau added guitars and synths.
AFROPONTO
This track came from the rare moments that I spent alone playing guitar, just focusing on how different arrangements could intertwine. This theme came to me in my living room, improvising with an afro guitar loop. It was initially just a study in rhythm and sound, but it slowly formed into a kind of ponto sung without voice.
BAILE DE CINEMA
In January 2023 before I moved temporarily to São Paulo, I spent a few hours improvising at Escritório with two friends from SP, Vicente and John. Months later in Aalborg, Denmark I went digging through these recordings out of curiosity and ended up cutting out large snippets that easily assembled a track in my head. My initial purpose for the lyrics was the idea of the “baile de cinema” – much like a fancy party in old movies, we are shown that everything is always perfect – and a philosophical essay aroused in me about the importance of being wise enough to see through these presentations of “perfection” and instead, move forward and away before being taken advantage of.
SOLITUDE
This song was an instrumental that accompanied me for a while as an abstract theme. My lyric sketch was about being alone and being well enough with yourself to the point of levitating in your own reality. It made a lot of sense to me being isolated in a room just recording and writing while seeing through the open blinds a brief sea outside on sunny days and lots of people strolling along the waterfront. This was the environment around the room I was using to produce in Aalborg, Denmark in July 2023. For about 4/5 days my routine was to go into this room and do any kind of artistic manifestation related to music and writing . This track was buzzing in my head with the lyrics ready, just needing a good interpretation. It happened in this room. Amanda was a very important friend in the collaboration with this room and it was talking to her that I realized that I was literally taking part in an artist residency. I prepared these last two tracks during this residency in Denmark and mixed them in Finland while doing the last two shows of the longest tour I’ve ever done with ORUÃ – four months and two weeks long.
In April 2016 I had my first experience in a musical artist residency. It happened in the capital of São Paulo. During this period I started to get involved with some people from the free improvisational circuit, outside the residency. I started to improvise with Cacá Amaral, Henrique Diaz and Juliana R. They were unusual people musically for me and very welcoming. We did some sessions and my field of possibilities on guitar and compositions were expanding more and more towards free jazz. Cacá Amaral was a kind of mentor for me in free improvisation. I remember him picking me up in the car at a subway station to go to Archela’s house. Incredible recordings came out of there and one of them was included on ORUÃ’s first album, representing another type of idea within my music.
In October 2023 I will present I FEEL IN THE SKY at another artist residency. In Seaview in Washington (USA), inserting my current notions of improvisation in a completely new environment immersed in nature and close to the sea.
The social adversities in which I grew up never made me feel like an artist. It was traveling around the world that made me feel any significant respect for what I do as genuine art. This defined my project as an artistic free pass that explores new and unknown worlds. Without fear.
I finished this record in my city, here in my neighborhood, after a trip that lasted four months and two weeks where I crossed more than 10 countries with ORUÃ, between the United States and Europe.